Wednesday, February 12, 2014

"Nunca desista de seus sonhos"(?)

Como vou dizer isto? 

O conselho, aparentemente benigno, às vezes me soa como uma sentença perpétua, uma roda para hamsters obsessivos. Quase uma crueldade, pois presume que "só não consegue quem desiste".  E quem é que consegue alguma coisa sem desistir de outra?

"Acredite em você" também pode ser uma armadilha. Depende muito de quem você sabe ser. Ou pode ser o caminho certo para a ilusão completa.



Porque, pense bem, este rinoceronte nunca vai ser um unicórnio.

Se, por um lado, os sonhos são o alimento da nossa alma, por outro, podem ser ilusões que nos aprisionam num padrão forjado.

Voltando ao rinoceronte, ele escolheu tentar ser um unicórnio ao invés de ser ele mesmo. Então ele pode confundir, intrigar e até convencer alguns, mas não passa de um simulacro, uma repetição ruidosa de um sinal já emitido.

E se ele tentasse entender quem ele é?

E se o Rinoceronte descobrisse que ele é um animal forte, belo, raro? Se ele decidisse ser o melhor e mais forte e temido rinoceronte, se ele resolvesse pintar o seu chifre de azul fosforescente, para ser um rinoceronte muito louco e mítico e mágico, e se ele percebesse que ele tem muito mais chance de ser incrível como o rinoceronte que é?

Desistir, às vezes, pode ser a cura.







Tuesday, February 11, 2014

os cavalinhos correndo...

A sensação de fim de feira, fim de festa, fim do que conhecemos, é palpável.

Me debruço sobre a janela/espelho/facebook para ver as notícias editadas pelos amigos. O mundo acabou e nos alternamos entre uivar sobre os escombros ("que absurdo, que absurdo") ou fazer ensaios sensuais entre os destroços (o que leva a refletir que Nana Gouveia foi uma artista visionária, pós-contemporânea, pós-apocalíptica, mal compreendida em seu tempo).

Lembrei do filme do Bergman, "Morangos Silvestres", de 57, em que os personagens discutiam o absurdo de colocar filhos no mundo. O mundo já estava acabando - e como! - há sessenta anos. O mundo está acabando desde sempre.

Há dias ando angustiada com a absoluta irrelevância das minhas ações. O que poderia fazer de original no meio desta gritaria? E o que seria diferente, se eu criasse algo original?

Nada. Tudo. É a mesma coisa.

Lembrei de um dia - muito tempo atrás - em que estava especialmente triste, triste pra acabar, e que resolvi ouvir um disco que estava há anos na minha prateleira, dentro do plástico, lacrado.  Pensei: "já que é pra acabar, deixa pelo menos eu tocar este disco que comprei e nunca ouvi".

O disco - do grupo Língua de Trapo - era bobo. Não era especialmente bom, mas o gesto me tirou da imobilidade, da sensação irreal de que não havia mais nada a fazer ou a dizer. Peguei o que me cabia e fui viver em outro lugar, mudei de cidade, mudei de vida, fui saber quem eu era longe das circunstâncias dadas.

(*No caminho, verifiquei o que o Cortazar - senão me engano - já tinha apontado: a loucura é portátil. Mas esta é outra história.)

Hoje lembrei daquele dia.  Hoje eu precisava lembrar. Fui até o meu armário e peguei os ultimos discos da Marisa Monte - sim, eu comprei e não ouvi nenhum nenhum desde Amor I Love You, mas a culpa foi dela, quem mandou colocar trava pro iTunes? Passei a manhã ouvindo o Infinito Particular e o Universo Ao Meu Redor. São dois bons discos. Vou ouvir de novo.

Está tudo aqui, o universo todo é aqui. Nada e tudo. É a mesma coisa.
Mais um café. Enquanto o mundo acaba, a gente vive.

das relevâncias

Questão da hora: Se uma árvore cai no meio de uma floresta e não aparece no instagram, ela caiu?

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